Incêndio consome mata em área do Parque Indígena do Xingu em MT

Um incêndio de grande porte consome o Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso. Esse é um drama para os agricultores, que são vítimas do fogo.

Um incêndio de grande porte consome o Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso. Esse é um drama para os agricultores, que são vítimas do fogo.

O trabalho de quase uma década foi destruído em minutos. O agricultor Claudinei Klein e seu pai, Alceu Klein, investiram dinheiro e suor no seringal em Gaúcha do Norte. Eles plantaram cinco mil árvores com as próprias mãos e assistiram ao fogo destruir 60% do cultivo.

Os agricultores sabem que o incêndio que atingiu o seringal começou em um lixão improvisado, que fica próximo à propriedade. Mas, muitas vezes não é fácil saber a origem da queimada. Para desvendar esse tipo de mistério, o Ibama conta com peritos como Altair Gonçalves, que trabalha com as equipes de fiscalização. No caso da propriedade, o perito concluiu que o fogo serviu para a limpeza de uma área desmatada recentemente e com uso de correntão.

O incêndio atingiu 2,8 mil hectares da fazenda. Com base nos dados da perícia, o Ibama poderá embargar a área e multar o proprietário. Mas o fogo também pode surgir em parques e grandes áreas de conservação. São lugares que, em tese, deveriam ter a natureza bem preservada.

O Parque Indígena do Xingú ocupa um território de 26 mil quilômetros quadrados, o mesmo tamanho de um estado como Alagoas. O Xingu abriga 16 povos indígenas, que vivem da floresta e da agricultura em áreas pequenas.

Desde julho uma parte parque foi tomada por um incêndio gigantesco. O Ibama concentra as ações de combate ao fogo no Alto Xingu, área que ao sul do parque indígena. O incêndio no parque forma uma linha que tem mais 30 quilômetros de extensão. Com isso, mais de 210 mil hectares da reserva já foram devastados. Isso representa quase 8% do território total do parque.

Segundo o Ibama e lideranças indígenas, a causa mais provável do incêndio foi o uso de fogo para a limpeza de terreno nas áreas agrícolas dos índios.

O uso de fogo para limpar o terreno é uma prática antiga entre os indígenas. Mas de uns tempos pra cá esse costume começou a gerar problemas. A situação preocupa o coordenador da Funai em Canarana Kumaré Txicão, que nasceu e cresceu no Xingu.

“Nós era mata muito fechada ainda. Eles tocavam fogo no campo. Quando chegava no mato, ele apagava. Hoje, com a mudança climática, favorece a queimada com o vento forte. Então, eles não têm esse controle”, explica Txicão.

Diante das mudanças no clima e na floresta, A Funai e outras entidades iniciaram uma campanha entre os moradores do Xingu sobre os perigos do fogo. O incêndio que começou no Xingu também atingiu a fazenda em Gaúcha do Norte, que faz divisa com o parque. A área de reserva e o pasto onde ficam os animais foram afetados pelo incêndio.

Segundo o vice-presidente do Sindicato Rural do município, o avanço do incêndio tira o sono de muitas pessoas na região. “Fora o impacto ambiental, a gente tem o impacto financeiro muito alto”, diz Luiz Bier.

As queimadas também provocam prejuízos para pequenos produtores de Rondônia, que dependem da roça para sobreviver.

A agricultora Raimunda da Silva tem um lote de dez hectares no Assentamento Santa Rita, em Porto Velho. Filha e neta de agricultores, ela sempre viveu da terra. Mas, a vida da dona Raimunda passou por uma grande mudança em setembro de 2015. Na época, um incêndio, que começou em um lote vizinho, se espalhou e destruiu a principal fonte de renda da agricultora. O fogo acabou com os cinco hectares de mandioca que ela usava para fazer farinha.

Hoje, depois de um ano, o mato já tomou conta da área queimada. Os poucos pés de mandioca que resistiram não têm forças para produzir. A casa de farinha está parada. Viúva, sem dinheiro e sem produção, dona Raimunda conta apenas com uma aposentadoria para sustentar o sítio e os dois netos que vivem com ela.

Histórias como a da agricultora se repetem por toda a região. Só em 2015, as queimadas atingiram 281 mil quilômetros quadrados. São cerca de 5% da superfície Amazônia Legal.

O problema desafia a ciência; prejudica agricultores, pecuaristas e povos indígenas; e provoca perdas incalculáveis para a natureza da região.

Além de afetar duramente a região, as queimadas também provocam problemas em escala global. Por ser a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia cumpre um papel essencial para o clima do planeta. Quando a floresta brasileira é destruída, de maneira direta ou indireta, o mundo inteiro sai perdendo.

Fonte: G1

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